O Peixinho de Ouro
Certo dia, tendo lançado a rede, esta pareceu-lhe mais pesada do que nunca. Içou-a e qual não foi o seu espanto ao verificar que, entre as malhas, só havia um peixe. Mas não era um peixe normal, era um peixinho de ouro. Com voz humana o peixinho suplicou-lhe:
− Não me apanhes, bom velho! Deixa-me voltar para o mar que eu virei a ser-te útil. Dar-te-ei tudo o que me pedires. Estupefacto, o velhinho respondeu:
− Não preciso de nada. Volta para o mar!
Dizendo isto, o velho atirou à água o peixinho de ouro e regressou a casa.
Encontrou a velha à porta, que imediatamente lhe perguntou:
− Fizeste boa pesca, velho?
− Só um peixinho de ouro, mas voltei a deitá-lo ao mar. Pediu-me tanto! Dizia assim: «Ser-te-ei útil: dar-te-ei tudo o que me pedires!» Fez-me tanta pena que, mesmo sem lhe ter pedido nada, deixei-o ir-se embora.
A velha ficou furiosa:
− Ah, velho idiota! Tiveste a fortuna nas mãos e não a soubeste aproveitar. Podias ao menos ter-lhe pedido pão. Daqui apouco não há nem um bocado de pão seco. Com que havemos,
então, de encher o estômago?
E continuou a gritar, até que o velho, que já não a podia ouvir, foi à beira-mar pedir pão ao peixinho.− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o
rabo e o rabo para lá.
O peixinho nadou até à margem.
− Que queres, bom velho?
− A minha mulher zangou-se e diz que quer pão.
− Volta para casa, reza a Deus e terás o pão – assegurou-lhe o peixinho.
Ao entrar em casa, o velho perguntou:
− Então, mulher, já há pão que chegue?
A única resposta que teve foi:
− Pão, há de sobra, mas olha que a tina se rachou e não sei onde lavar a roupa. Vai ter com o peixinho de ouro e pede-lhe que te dê uma nova.
O velho foi à beira-mar:
− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixe apareceu a nadar.
− Que queres agora, bom velho?
− A minha mulher mandou-me vir aqui pedir-te uma tina nova para lavar a roupa.
− Está bem. Vai para casa, reza a Deus e terás uma tina nova.
Ainda mal chegava a casa, já a mulher vinha ao seu encontro.
− Vai já ter com o peixinho de ouro. Pede-lhe que nos construa uma cabana nova. Na nossa é impossível viver!
Mais uma vez o velhote se encaminhou para o mar e pediu:
− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixinho aproximou-se imediatamente a nadar.
− O que foi, bom velho?
− Constrói-nos uma choupana nova. A velha só grita e não me dá descanso. Não quer viver numa casa que está a cair aos bocados.
− Não te desesperes, bom velho! Vai para casa, reza a Deus e tudo será feito.
O velho voltou para casa e, no lugar da cabana, erguia-se agora uma casa feita de bom carvalho. Mas a velha vinha ao seu encontro a gritar:
− Ah, velho pateta! Não sabes aproveitar a sorte. Pediste uma nova choupana e pensavas que isso era tudo? Não! Vai outra vez ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que já não quero ser camponesa, quero governar a província, para que todos me ouçam e se inclinem perante mim.
Chegado ao mar, o velho gritou:
− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
− Que te aconteceu, bom velho?
− A minha mulher não me dá sossego e agora quer governar a província.
− Tem paciência, bom velho. Vai para casa, reza a Deus e tudo será feito.
Ao aproximar-se de casa o velho ficou boquiaberto. Em vez da casa havia um sumptuoso solar. Entrou e viu a mulher elegantemente vestida e uma multidão de criados.
− Olá, mulher – disse o velho.
− Ó pobre de pedir! Como ousas chamar-me mulher, a mim que sou governadora? Guardas venham cá! Prendam este labrego, levem-no para as cavalariças e dêem-lhe uma sova com quanta força tenham! Imediatamente os guardas acorreram, agarraram no velho e arrastaram-no para as cavalariças, onde o açoitaram.
Depois, a velha pô-lo a fazer de porteiro e mandou que lhe dessem uma vassoura para manter o pátio bem limpo. Triste vida a do velho: trabalhar sem descanso durante o dia para uma
mulher que já não o considerava marido. «Que velha má», pensava ele. «Tanta riqueza lhe dei que lhe subiu à cabeça e já nem sequer me considera seu marido!»
Passado algum tempo a velha cansou-se de ser governadora e mandou chamar o bom velho.
− Ouve, velho imbecil! Vai ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que quero ser czarina.
Cansado, de cabeça caída, o velho regressou ao mar. Tomou fôlego e gritou:
− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixinho de ouro chegou.
− Que se passa agora, bom velho?
− A velha enlouqueceu. Já não quer ser governadora! Quer tornar-se czarina!
− Não te aflijas, velho. Volta para junto dela, reza a Deus e tudo será feito.
O velho voltou para junto da mulher e, em vez do solar, encontrou um palácio real com cúpulas de ouro. A toda a volta havia sentinelas de arma ao ombro e, por detrás do castelo, um
vasto parque.
A velha, vestida de czarina, surgiu na varanda e passou revista às tropas. Rufavam os tambores e ouviam-se marchas:
− Viva! – gritaram os soldados.
Algum tempo depois a velha cansou-se de ser czarina e mandou chamar o velho. Foi o bom e o bonito para o encontrarem, mas, por fim, um guarda descobriu-o no canto mais escuro do jardim. Foi conduzido à presença da czarina.
− Ouve, velho piolhoso! – berrou a soberana. – Vai ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que estou cansada de ser czarina. Quero ser a imperatriz dos mares, para que todos os
peixes me obedeçam!
O velho encheu-se de coragem e mais uma vez foi ter com o peixinho.
− Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
Mas o peixinho de ouro não veio! O velho chamou-o outra vez: nada! De repente, o mar engrossou e agitou-se. Antes estava claro, límpido, agora completamente turvo. O
peixinho veio até à margem.
− O que foi, velho?
− A minha mulher está cada vez mais prepotente e caprichosa. Já não quer ser czarina. Quer tornar-se imperatriz dos mares, para reinar sobre todas as águas e sobre todos os peixes!
O peixinho não disse nada. Voltou-se e desapareceu no fundo do mar. O velho voltou para trás e, qual não foi o seu espanto ao ver que o palácio, os jardins e os guardas tinham desaparecido! Apenas havia a velha choupana.Entrou em casa e viu a mulher com os velhos trapos. Os
dois regressaram à antiga vida…
Desde então, nunca mais voltou a apanhar peixinhos de ouro.
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